Por Karina Nones Tomelin*: Durante boa parte da minha trajetória profissional, passei o final de cada ano e início do seguinte preparando as semanas de planejamento e capacitação de professores. Quem está nos bastidores desses eventos sabe dos desafios da organização, especialmente em grandes instituições. Esta experiência, no entanto, me mostrou que a maior dificuldade não está no orçamento apertado, no atraso de algum fornecedor, na ausência de um palestrante ou na queda de energia na cerimônia de abertura. Longe dos problemas operacionais que sempre dão um frio na barriga, está a efetividade e o resultado prático desses encontros.
“Como as capacitações e formações continuadas contribuem para o desenvolvimento da prática pedagógica e melhoram a experiência de aprendizagem dos estudantes?”
Poucas vezes encontramos a resposta para esta pergunta. E, um dos motivos é porque, por mais que as instituições tenham alguns indicadores para avaliação da performance docente, nem sempre conseguem estruturar seus resultados para gerar feedbacks efetivos com o planejamento de ações para melhoria.
Certamente, nenhum professor deseja ser um péssimo profissional. Nenhum professor fica feliz com uma aula ruim ou com alunos desatentos. O que acontece é que nem sempre, está muito claro o que pode ser feito, ou seja, poucas vezes o professor sabe o que fazer para melhorar.
Por outro lado, as capacitações oferecidas atendem aos professores de maneira genérica, não reconhecendo as dores e fragilidades individuais e diárias da sala de aula. O sentimento de frustração e perda de tempo, infelizmente, é muito comum nestes encontros e muitos professores não se sentem estimulados a participar, muito pelo contrário, sentem-se “obrigados” comportando-se como seus alunos mais preteridos.
Mapeamento
O desconhecimento das competências necessárias para atuar em sala de aula também é um desafio. Acreditar que um bom professor é o que tem vasto repertório técnico é relevante, porém isso não é o essencial.
“Habilidades metodológicas, socioemocionais, analíticas e digitais vêm sendo cada vez mais requeridas para a profissão docente. Na verdade, em muitas outras profissões.”
Segundo o relatório do Fórum Econômico Mundial (2020) sobre o futuro dos empregos, as principais competências para o profissional do futuro nos próximos cinco anos serão o pensamento analítico e inovação, aprendizagem ativa, resolução de problemas, pensamento crítico e criatividade.
“Sendo o professor o profissional que forma todas as outras profissões, como poderá ajudar a desenvolver as competências do profissional do futuro nos seus alunos se, muitas vezes, ele não as possui?”
Toda esta realidade me levou a pensar em alternativas viáveis e efetivas para a formação. Alternativas que trouxessem um olhar particular, gerassem dados, permitisse a autoanálise e auxiliassem na indicação de soluções.
Nesta perspectiva, um primeiro passo é mapear as competências docentes a partir do diagnóstico, da aderência, considerando as principais fragilidades e fortalezas dos professores da instituição. O mapeamento dessas competências contribui para a orientação do processo de admissão, promoção da integração do novo professor à cultura institucional, desenho de indicadores internos de performance e o planejamento de ações de formação continuada.
As competências do professor do futuro
Olhar para as mudanças que a revolução tecnológica tem trazido ao cenário educacional, mobiliza a revisão de currículos, metodologias e estratégias além das habilidades e competências docentes. No quadro a seguir, apresento as competências divididas em quatro grandes áreas: digital, metodológica, analítica e socioemocional. Veja, no quadro, como elas se manifestam no professor dos próximos anos:
Reconhecida as principais competências desse professor do futuro (e presente), torna-se necessário avaliar o nível de aderência dos professores a cada uma delas. Isto é importante para que o docente tenha um feedback e consiga perceber suas fortalezas e suas fragilidades. O diagnóstico torna-se um mapa que passa a orientar a instituição e o professor no direcionamento das formações e no desenvolvimento de planos de ação.
Neste sentido, instrumentos que auxiliam no mapeamento das competências, que desenvolvam a autorreflexão e a autorregulação, promovendo uma cultura de autoaprendizado constante e efetivo são essenciais.
A Adere, por exemplo, é uma plataforma analítica que permite às instituições e ao professor o diagnóstico e mapeamento das principais competências docentes, a partir da parametrização da sua intensidade e atributos da profissão.
Composto por perguntas com múltiplas respostas, o teste avalia a aderência do professor a conhecer, saber e saber fazer promovendo a autoanálise e simulando situações práticas do cotidiano da sala de aula. Em cada uma das áreas, o professor recebe um feedback que indica seu perfil atual e sua aderência em cada um dos quatro níveis.
São eles:
● Aderência a ser um explorador: capacidade de descrever, compreender e comunicar;
● Aderência a ser um promotor: capacidade de compreender conceitos, relacioná-los, formular argumentos, comparar dados e informações;
● Aderência a ser um praticante: capacidade de compreender conceitos e teorias educacionais, relacioná-los, analisar seu uso e colocá-los em prática;
● Aderência a ser um influenciador: capacidade de compreender, relacionar, argumentar, utilizar e compartilhar experiências, práticas e teorias educacionais.